Desfazendo o tema da violência contra transexuais, a socióloga provoca seus interlocutores ao propor o feminino como signo do “contaminado”. Transitando pela sua vida acadêmica e seu ativismo político, Berenice Bento nos apresenta a violência não somente como um dado estrutural, mas como uma relação de poder complexa que trespassa o cotidiano, o trabalho, a família, chegando à violência das agressões e assassinatos.
O que está em jogo para a autora é a própria produção daquilo que seja humano; sendo “humanos” aqueles socialmente significados exclusivamente pelo tipo de genitália que possuem ao nascer. Relega-se, dessa forma, as travestis e as pessoas trans a um não-lugar, destino daquilo abjeto, ou seja, daquilo que não deveria estar ou não deveria ser. Sendo assim, a violência é acionada de forma a executar uma assepsia na humanidade, matando o que não é humano – uma coisa -, aquilo que não afeta, não faz chorar, não move a ajudar ou a socorrer.
As travestis e transexuais, performadoras da chaga do feminino, sustentam um corpo contagioso e se tornam vulneráveis, matáveis, sujeitas à violência mediante a cumplicidade do Estado. Nesse sentido, Berenice Bento sugere o termo “transfeminicídio” para demarcar essa violência acionada pelo gênero, de modo a suscitar uma dimensão política daquilo que tem sido tratado exclusivamente como caso de polícia.
Entrevista na íntegra concedida por Berenice Bento ao programa Caminhos da Reportagem da TV Brasil com o tema “Por que o Brasil é o país que mais mata transexuais?”.
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