A herança colonial e escravocrata constitui o racismo no Brasil. Entrevista especial com Berenice Bento


Entre os séculos XVI e XIX chegaram cerca de sete milhões de africanos escravizados traficados pelos portugueses. Essa matriz africana está no cerne da construção da sociedade brasileira, mas também no racismo estrutural que se forjou o país. Esta pauta foi muitas vezes apagada e esquecida pela ciência, que “não está acima das classes, das raças e dos gêneros”, coloca Berenice Bento. E foi partir da “demanda pela presença e pela visibilidade do pensamento negro” nas universidades que a professora se debruçou nos últimos seis anos a uma vasta pesquisa histórica que culminou no livro Abjeção: a construção histórica do racismo (Cult Editora: 2024).

A publicação lança luz sobre os debates parlamentares que antecederam a promulgação da Lei do Ventre Livre, de 1871, que culminaria na “primeira geração de brasileiros negros que iria compor a população brasileira”, conta a pesquisadora na entrevista concedida por WhatsApp ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Entre os meses maio e setembro de 1871, parlamentares se revezaram na tribuna para defender ou atacar o projeto de lei encaminhado pelo imperador Dom Pedro II que visava principalmente determinar que os filhos de mulheres escravizadas, nascidos após a promulgação da lei, nasceriam de condição livre.

Ao recorrer à historiografia, Berenice avaliou a herança colonial escravocrata e observou seus efeitos na contemporaneidade tendo o conceito de abjeção com fio condutor. A autora procurou apontar as linhas de continuidade entre passado e presente. A professora também propõe o conceito de necrobiopoder em articulação com o de genocidade para analisar os anais parlamentares de 1871. Segundo coloca, “o conceito de necrobiopoder passa a ser um tipo de instrumental analítico que ajudou a interpretar as políticas do Estado que não se move, exclusivamente, por políticas de promoção da vida e do cuidado, consideradas no âmbito da biopolítica, tampouco se move exclusivamente por políticas de promoção da morte, que é o necropoder”.

 

Confira a entrevista na íntegra em: 


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