Universidade, gênero e movimentos sociais (Decálogo)


| Antes do texto

Escrevi esta comunicação para participar da mesa-redonda Universidade, Gênero e Movimentos Sociais, organizada pelo diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes/UFRN, Prof. Dr. Herculano Ricardo Campos, e que teve como o objetivo debater os sentidos e as propostas das estudantes que ocuparam um banheiro masculino do setor II do CCHLA/UFRN. Até a data daquela mesa-redonda, não havia nenhum canal de comunicação entre as/os ocupantes, a direção do Centro e/ou com a comunidade em geral. Da mesma forma que a grande maioria da universidade, eu tentava entender o que estava posto. Depois dessa mesa-redonda, a negociação foi direcionada para garantir mais um banheiro sem gênero no âmbito da UFRN, ou banheiro unissex, seguindo os passos do Departamento de Artes.

| Introdução

Glória Anzaldúa (2000), teórica feminista, queer e chicana/norte-americana, afirma que o diálogo só existe quando nos colocamos no lugar da fronteira, no limiar. O movimento deve ser de mim para outro, devo deslocar-me para o outro, como se fosse uma tradutora, invertendo, assim, o sentido historicamente conferido aos encontros, principalmente no âmbito da política e do pensamento colonizador, no qual é sempre a verdade do “eu” que conduz o suposto diálogo. Na tradução, precisamos primeiro entender a língua do outro. A ideia da tradução cultural é a que melhor se aproxima de como vejo a iniciativa do prof. Herculano: antes de qualquer coisa, escutar os sentidos envolvidos na ocupação do banheiro, deslocando o lugar da escuta, tentando compreender e, ao fazer isso, contribuir para que todos nós possamos ser afetados com a experiência em curso. Nesse sentido, agradeço a iniciativa e o convite para participar desta mesa-redonda.

| Preâmbulo I: O ato de ruminar

Determinado tipo de animal antes de engolir o alimento o prepara através de diversas mastigações. O alimento vai até o estômago e volta à boca, vai e volta. Meu pensamento é ruminante. Por diversas vezes, me pego aprisionada a um problema que teima em se apossar inteiramente de mim. Rumino, rumino. Nos últimos dias, desde o fim da primeira edição Seminário Internacional Desfazendo Gênero, fui tomada por essa “metodologia de análise” que, para mim, é dolorosa. Rouba meu sono, leva meu apetite. E, nesse caso específico, a ocupação do banheiro, essa ruminação é potencializada porque conheço alguns dos estudantes que estão na mobilização e pelos quais nutro uma enorme admiração intelectual e afeto.

| Preâmbulo II: A notícia da ocupação

Em meio à correria dos infinitos imponderáveis da vida real que atravessaram o Desfazendo Gênero, fiquei sabendo que estudantes tinham ocupado um dos banheiros do Setor II. Admito que não tive um único minuto para ler e me inteirar do que estava acontecendo. Afinal, naqueles dias, o simples ato de almoçar me parecia algo excessivamente burguês, tamanho o volume de trabalho que tínhamos diante de nós. Terminado o evento, passei no banheiro, mas estava fechado com um cadeado, vi as pichações, conversei, escutei, conversei. Li tudo o que foi publicado na Carta Potiguar. Organizei as questões que vou apresentar em torno de 10 pontos. Vamos ao meu decálogo, ou fragmentos da ruminação.

Para ler o decálogo completo, acesse:

https://periodicos.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/22284/14316

Imagem da capa: afetadxs.blogspot.com 


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