Resenha do meu livro: “Transviad@s: gênero, sexualidade e direitos humanos”. Salvador: EDUFBA, 329 pp.
Por: Alisson Machado POSCOM/UFSM [email protected]
Berenice Bento poderia ser uma Alice travesti que não se contenta em atravessar o espelho ou comer um pedaço do bolo para mudar de tamanho. Para ela, pensar o gênero como metáfora de um espelho – como sinônimo de mulheres; ou da diferença cultural entre “homens” e “mulheres” baseada na distinção entre os “sexos” – não basta para destituir os reis e rainhas que insistem em pintar os jardins das mesmas cores e que autorizam que cortem as cabeças (sem metáfora) de nossas populações trans e travestis, diariamente. Da mesma forma, para essa Alice, não basta reproduzir os saberes estrangeiros, distantes demais de nossas realidades precarizadas e purpurinadas. Ela é antropofágica: transa o queer, parindo estudos transviados. Estudos que atentam às realidades brasileiras e latino-americanas, percebendo os resquícios políticos mais cruéis de nosso passado; a saber, nossa herança escravocrata e ditatorial, que ainda conforma o caleidoscópio vivo no qual quem não se adequa às cisheteronormatividades raciais vigentes insiste em viver.