Abjeção: a construção histórica do racismo


Abjeção: a construção histórica do racismo. A obra argumenta que o racismo é um processo histórico e contínuo que desumaniza e exclui corpos negros, relegando-os a uma condição de abjetos, ou seja, de seres rejeitados e excluídos das normas e do reconhecimento social pleno. 
A tese de Bento baseia-se na ideia de que os corpos negros, historicamente marcados pela escravidão, nunca foram completamente reconhecidos em sua humanidade pela sociedade brasileira. O racismo, para a autora, atua como uma força que mantém essa herança colonial e escravocrata na contemporaneidade, perpetuando a marginalização e a submissão da população negra. 
A abjeção na construção do racismo
Berenice Bento apropria-se dessa ideia e a aplica ao contexto do racismo brasileiro, mostrando como ele se constrói e se reproduz por meio da abjeção: 
  • Exclusão constitutiva: O racismo opera rejeitando o “corpo negro” para fora do pacto social, constituindo a sociedade branca como norma e o corpo negro como desvio. O corpo negro, portanto, torna-se o abjeto, aquele que perturba a identidade convencional e precisa ser expulso.
  • Vínculo com a herança colonial: A autora argumenta que a herança da escravidão não se desfez com a Lei Áurea. Em vez disso, a lógica de dominação colonial e a visão do negro como força de trabalho, e não como ser humano pleno, continuaram a estruturar a sociedade brasileira. A abjeção, nesse sentido, é a continuidade dessa lógica.
  • Abjeção e necropolítica: No livro, a autora propõe o conceito de “necrobiopoder” em conjunto com a abjeção para analisar a Lei do Ventre Livre. Ela mostra como, mesmo com a “liberdade” legal, as mães negras continuavam sujeitas ao “necropoder” (o poder de decidir quem vive e quem morre), enquanto os filhos legalmente livres entravam na esfera do “biopoder” (poder sobre a vida) de forma precária e marginalizada, mantendo a estrutura de abjeção.
  • Racismo na psicanálise: Berenice Bento também critica a falta de consideração do fator racial na psicanálise, apontando para uma “psicose cultural” que nega o papel da raça na estruturação do sujeito. Segundo a autora, a raça não é apenas um fator social, mas uma linguagem que estrutura o inconsciente, perpetuando a abjeção. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *