Máscaras heterossexuais, desejos homossexuais


Máscaras heterossexuais, desejos homossexuais*
Berenice Bento**

(texto na íntegra: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332017000300601&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt)

** Professora do Departamento de Sociologia da UnB, Brasília-Df, Brasil. [email protected].

 

Miskolci, Richard. Desejos Digitais: uma análise sociológica por parceiros on-line. São Paulo: Autêntica, 2017.

 

A cena mais banal dos nossos cotidianos é entrar em qualquer espaço público e nos depararmos com uma legião de pessoas acopladas aos seus smartphones. Essas próteses existenciais parecem grudadas aos nossos corpos. Olhos vidrados, dedos ágeis, corpos eretos. Talvez ali, diante de nós, um encontro sexual, via algum aplicativo, esteja sendo marcado. Depois de um checklist dos atributos do futuro parceiro de noite, o encontro é marcado. Dois homens, distantes não sabemos o quanto, protegidos por senhas, criptografias, fakes, podem, finalmente, viverem seus desejos. O que buscam? São gays ou heterossexuais? O anonimato das telinhas os torna mais livres? O que é liberdade em contextos onde decidimos pouco sobre as normas sociais?

Ao longo dos sete capítulos, Richard Miskolci analisará os usos das mídias digitais por homens que procuram parceiros sexuais e amorosos do mesmo sexo. Um dos objetivos do livro Desejos Digitais: uma análise sociológica por parceiros on-line (2017) é compreender como homens têm negociado a visibilidade/invisibilidade do desejo homossexual mediante o uso de meios tecnológicos. Antecipo (e peço desculpas por esse meu lado spoiler) que somos jogados em um mundo de segredos, controles, autocontroles, medos e frustações. Os aplicativos parecem liberar, em intensidades distintas, o que esses homens consideram ser seus “black mirrors”. A parte do eu que não ousa sair. As frestas agora têm nomes: Grindr, Hornet, Scruff, Tinder e Happn.


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